11 novembro 2003

Caindo na real



Carta aberta pra Rainha Elizabeth II:

Dear mother,

Eu nasci branco azedo, orelhudo e narigudo, ou seja, feio que nem a cidade de Londres, apesar de ter sangue azul. Imagina se a cor fosse outra. É, melhor nem imaginar. Esse kit feiúra que a real genética familiar me proporcionou foi me revoltando.

Na infância, em todas as brincadeiras eu sempre era o monstro. Nas festas de halloween, a senhora nem comprava máscara pra mim. Nem precisava. Tava na cara. Na adolescência, com as chegada das espinhas no rosto, aí é que tava na cara mesmo. Com o tempo e depois de diversos espelhos quebrados, melhorei um pouco. Tentei até sambar com uma passista no Rio de Janeiro. Lembra dela, mãe? A Pinah. Mas bastou ela me encarar para os cabelos da moça caíram com o susto. Um vexame. Nas caçadas pelas florestas do reino, por diversas vezes os cães pegavam no meu pé. Me confundiam com os alces.

Quando tudo caminhava pra mais um boiola-horrendo no reino, apareceu Diana. Nem perdi tempo. “Let’s go now” (na tecla SAP, “agora vai!”), pensei. Enfeitiçada pela minha feiúra, namoramos, noivamos e casamos. Ah... o casamento... Que festança, mãe! O mundo todo assistindo. Tudo ma-ra-vi-lho-so. Chiquerrésima a carruagem que nos levou pra igreja. E aqueles soldados perfilados? Uauuuuuu!!!! Infelizmente, a nossa vida não foi um conto de fadas. Muito menos de fodas. Diana implicava com tudo. Só pra ficar num exemplo, ela não gostava que eu usasse aqueles saiotes de xadrez. Ela achava vulgar pra um príncipe. E eu tinha mais de cem no closet! Como diz aquela música, eu não tava nem aí. Achava lindo. Com as meias até o joelho, então, era muito fashion. Se o Rouge existisse naquele tempo, eu seria uma popstar com certeza. Na pior das hipóteses, estaria no Br’oz (por sinal, que rapazes lindos...). Entretanto, ela foi intransigente: ”os saiotes ou eu”. Os saiotes combinavam melhor comigo.

Veio a separação. Um grande vazio dentro de mim que foi preenchido (no bom sentido) pela Camilinha. Camilla Parker-Bowells. Foi amor à primeira vista. Face to face. Feio to feia. Amava tanto aquela mulher, era um amor tão absorvente, que cheguei a querer ser o tampax da vida dela. Mas com tudo isso, mesmo com toda essa paixão transloucada, não resisti. Resolvi assumir. Não a paixão, mas a transloucada. Um dia Michael (não o Jackson e nem o George, que são da Confraria) entrou na minha vida. E entrou com tudo. Michael Fawcett, parente distante do Fausto, que conheci quando da viagem ao Rio e ficava escondido em Copa! Um amor avassalador. Mais que isso. Um vassalo ardor.

Mãezinha, sei que isso será um escândalo. Eu estou me lixando, quer saber. Tô reinando e andando. O que não falta é escândalo em nossa família. Um a mais não vai fazer diferença. Pelo menos, esse é real. E bota Real nisso. Não fique decepcionada, mammy. Eu sei que é fog pra você. Mas se a Lady Diva por que eu não Diria também? Veja o lado bom das coisas. Quando eu assumir o trono, pela primeira vez na história o Reino Unido será comandado por um bissexual. Um rei e uma rainha em uma mesma pessoa.

Como diria o também membro da Confraria, Freddie Mercury: God save the Queen!

Charles.

PS. A coroa você pode dar pra quem quiser. Mas o cetro eu faço questão...