Pra fechar de vez o Carnaval
O carnaval e a crise moral do presente. (*)
É basicamente moral a crise do nosso tempo. Poder-se-ia até afirmar que todas as outras – a econômica, a política, a social – dela decorrem, são conseqüências da insensibilidade moral, da desesperada negação de toda a ética, que leva a sobrepor-se aos princípios da concórdia e da solidariedade humana toda a espécie de interesses e de desígnios.
A leitura de algumas revistas ilustradas neste período pós-carnavalesco oferece uma demonstração do que foi o último carnaval carioca. Mesmo aceitando tais flagrantes como o resultado de caça deliberada ao sensacionalismo, o simples fato de haverem ocorrido as cenas fixadas constitui o mais formal libelo à deturpação de nossa festa popular por excelência.
Tivemos no último carnaval o uso generalizado do lança-perfume como instrumento de embriaguez. E, pior do que tudo mais, tivemos a nudez nos bailes de carnaval, até de sociedades tradicionais, onde sempre houve decoro mas que neste ano se deixaram arrastar pela onda da licença. A fantasia predominante foi o short, o biquíni disfarçado, envergado por mulheres de todas as idades e, infelizmente, até por adolescentes. E não nos esqueçamos dos flagrantes escandalosos das expansões amorosas em público, das mulheres que dançavam sobre as mesas ou cavalgavam os ombros dos homens, coisas que, há poucos anos, eram consideradas excessos privativos das piores orgias.
Felizmente para nós, acreditamos que as forças sãs da nossa sociedade são suficientemente fortes para reagir a tais abusos sem o recurso final de termos de combater o carnaval.
(*) Publicado há 50 anos no Jornal O Globo, em 28 de fevereiro de 1953.
Felizmente, não vivenciei a sem-vergonhice daquela época. Ainda bem que a sociedade reformulou os seus conceitos, transformando o carnaval de hoje em algo bem familiar, sem as baixarias de então...