Esquete
Publicado no “Calça Justa”, do “Elasporelas, outro dia:
O ALMOÇO
Beto Santos
Almoço de domingo. À mesa, o pai, a mãe, a filha e o genro (Adalberto).
(Pai - entre uma garfada e outra, com a voz triste)
- Sabe, meus filhos, a nossa situação financeira não é boa...
(Mãe pára de comer e o genro continua comendo)
(Filha - cara de surpresa)
- Como assim, papai?!
(A mãe começa a soluçar e o genro ergue um pouco a cabeça)
(Pai - balançando a cabeça)
- A sua mãe pediu pra que eu não contasse pra vocês, mas eu não consegui me segurar. Estamos endividados...
(A mãe tira os óculos, pega um guardanapo, o genro abaixa a cabeça e continua comendo)
(Filha - cara de mais surpresa)
- Mas papai, como assim, endividado?
(A mãe começa a chorar e o genro ergue um pouco a cabeça)
(Pai - balançando mais a cabeça)
- Dívidas, querida. Remédios, plano de saúde, condomínio, tudo aumentando e a minha aposentadoria... cada vez mais uma mixaria... tive que procurar um agiota...
(A mãe leva o guardanapo na direção dos olhos, o genro abaixa a cabeça e continua comendo)
(Filha - cara de espanto)
- Papai! Você nas mãos de um agiota! Quanto você deve?
(A mãe esfrega o guardanapo com força nos olhos e o genro continua comendo)
(Pai - quase sussurrando)
- Dois mil reais...
(A mãe começa a chorar compulsivamente e o genro ergue um pouco a cabeça)
(Filha - cutucando o Adalberto)
- A gente vai resolver isso, papai. Nós vamos emprestar o dinheiro pra você, né, Adalberto?
(Adalberto - comendo, de cabeça baixa e sem muita disposição)
- É, né...
(O pai coloca as mãos no rosto e se emociona)
(A mãe – emocionadíssima)
- Obrigada, minha filha. Obrigado, meu genro querido. Que Deus lhes pague em dobro...
(Adalberto - insensível)
- Eu preferia que vocês me pagassem antes dele...
Ah, Adalberto...